América do Sul

Os cachorros da América do Sul

Por em 6 de junho de 2016

Eles estão espalhados por todos os lados, são de todas as cores e de todos os tamanhos, fêmea e macho, filhote ou adulto, brincalhão ou medroso, os cachorros estão todos lá correndo pelas ruas e avenidas do país inteiro.

A minha vontade era acolher cada um deles dentro da Baunilha, dar comida, água e carinho, mas infelizmente querer não é poder e o que nos resta é tentar minimizar ao máximo o sofrimento desses pequenos, mesmo que seja com um simples gesto de carinho ou um pequeno pedaço de pão velho.

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No Brasil sofremos muito com o mesmo problema de abandono de animais nas ruas, existem pouquíssimos políticos que se importam com a causa e as ongs não dão conta de ajudar e resgatar tantos animais. Nas diversas cidades que já percorremos pelo Brasil sempre encontramos muitos animais abandonados e infelizmente a sociedade já acha “normal” esse fato.

Na Argentina o número de animais abandonados é surpreendente, são muitos, bem mais que no Brasil, chega a ser assustador ver tantos pequenos nas ruas. Não consegui achar um número oficial sobre isso e o governo assim como no Brasil também não parece se importar muito com o problema, que já pode ser considerado um problema de saúde pública.

Em Comodoro Rivadavia e Caleta Olivia foram as duas cidades que mais vimos cachorros abandonados, era difícil até transitar de carro pela cidade pois os cachorros ficavam correndo atrás dos carros e muitas vezes os motoristas tinham que parar no meio da rua e espera-los sair. O número de cachorros era tão grande que havia também muitos cachorros mortos pela cidade, todos jogados em canteiros ou na beira da pista.

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Ao longo do nosso caminho encontramos muitos cachorros por qual nos apaixonamos, o que nos surpreendeu também foi o fato de existirem muitos cachorros de raça abandonados, o pastor alemão era o principal deles, mas também vimos whippets, labradores, beagles e até husky.

Pulando pro país vizinho também encontramos pequenos perdidos pela rua, o Chile também carrega o problema do abandono de animais, mas em bem menor quantidade, pelo menos foi assim nas cidades em que passamos.

Uma cidade em particular tem mais animais abandonados do que qualquer outra que passamos no Chile, a pequena Chile Chico tem uma verdadeira coleção de cachorros na rua e foi lá que passamos o pior dia de toda nossa viagem.

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Ficamos parados em Chile Chico durante três dias, a Baunilha resolveu quebrar o coletor de admissão, como chegamos a noite não tinha nada aberto para podermos resolver o problema. A peça ficou pronta na manhã seguinte, mas a balsa para a Carretera Austral só saía no próximo dia, por isso ficamos três dias parados.

Estacionamos a Baunilha na avenida principal da cidade e ficamos dormindo por ali mesmo, o segundo dia de nossa estadia na cidade era 19 de maio, dia em que completaríamos dois meses de viagem e era pra ser um dia de comemorações.

Acordamos com o barulho de uma batida e o choro de um cachorro, algum babaca (espero que o universo tenha dado o troco nessa pessoa) atropelou um cachorro bem em frente da onde estávamos e fugiu. Acordei correndo e quando sai da Baunilha havia um pequeno deitado na calçada chorando, ainda era um filhotão. Uma menina que estava passando na rua falou para levarmos ele até o veterinário, mas a Baunilha estava quebrada, pegamos o cachorro no colo, eu e ela, e fomos a pé até o veterinário na mesma avenida. Por incrível que pareça as coisas no sul do Chile e da Argentina funcionam de uma forma bem mais lenta e todo tipo de comércio só abre depois das 10h da manhã. Enquanto a menina tentava ligar para o veterinário, o pequeno deu seus últimos suspiros em meus braços. Fiquei desolada e um sentimento de impotência tomou conta de mim, chorei inconsolavelmente e deixei o pequeno no gramado em frente ao veterinário para que dessem o devido destino aquele anjinho que foi brilhar no céu.

Depois desse acontecimento eu quero levar todos os cachorros embora comigo e quase acabo com o estoque de comida que temos, pois sempre que vejo um cachorro quero dar alguma coisa pra ele.

Nós quase levamos uma cachorra embora do Chile, a pequena se apegou tanto a gente que onde íamos ela ia atrás, mas infelizmente a burocracia de atravessar fronteiras com um cachorro é muito grande e não tínhamos tempo para ficar parados resolvendo tudo. Essa aí em baixo é a Caramela, a cachorra que a gente quase adotou em Chile Chico, ela acompanhou toda nossa estadia na cidade.

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O que não entra na cabeça é como alguém pode abandonar um ser tão indefeso, é incrível como o ser humano pode ser tão desprezível a esse ponto. O que nos resta é tentar levar um pouco de alegria para o dia a dia desses cãezinhos que encontramos pela estrada, fazendo-os se sentir especial mesmo que seja só por um momento.

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